Síndrome de Overtraining

O treino bem planeado contempla momentos mais intensos e de maior volume sendo que estas fases árduas de treino devem ser acompanhadas por uma recuperação adequada.

O objetivo do treino, no âmbito d@s atletas de elite, assenta na melhoria efetiva da performance desportiva, ao realizar treinos mais exigentes do ponto de vista físico. Ora, tal pode resultar em fadiga aguda e decréscimo do rendimento, mas que após um período adequado de descanso @s atletas experienciam uma adaptação positiva. Este fenómeno, do inglês, functional overreaching, contribui para uma melhoria da performance após a recuperação. No entanto, quando @s atletas não respeitam de forma exímia o equilíbrio entre treino e recuperação, contribuindo para uma acumulação de volume de treino e/ou stress não-associado ao treino, poderá ocorrer a Síndrome de Overtraining (SO). A SO é caraterizada por elevados níveis de stress, resultando numa fadiga persistente e perda de rendimento global, podendo ou não incluir sintomas fisiológicos e psicológicos. Esta síndrome é normalmente precedida por uma fase inicial, denominada, do inglês, Nonfunctional overreaching (NFOR). Na verdade, a diferença entre estes dois fenómenos é bastante complexa, e dependerá dos resultados clínicos. Contudo, parece basear-se na severidade e duração dos sinais, sintomas e alterações hormonais/fisiológicas, sendo que na NFOR a restauração do desempenho e capacidade atlética pode demorar entre dias e semanas, e na SO podem estender-se até semanas e meses. 

Qual a fisiopatologia?

Efetivamente, a origem desta síndrome parece desconhecida, multifatorial e bidirecional. As hipóteses propostas assentam em alterações bioquímicas e hormonais, que incluem:

– Depleção de glicogénio;

– Fadiga central/depleção de amino ácidos de cadeia ramificada;

– Depleção de glutamina/disfunção imune;

– Stress oxidativo;

– Desregulação hipotalâmica;

– Inflamação/libertação exacerbada de citocinas pró-inflamatórias.

O mecanismo que prime o gatilho para que estas alterações ocorram inclui uma complexa combinação de fatores psicológicos e ambientais, como distúrbios no sono, alimentação desadequada, agenda de competições intensa, viagens, dificuldades interpessoais, lesões, ocupações/stress académico, entre outros.

Qual a prevalência?

Na verdade, não existem dados suficientes que nos permitam saber a prevalência atual desta condição, contudo estima-se que 60% dos atletas de elite sofram de OS/NFOR.Esta síndrome é transversal a diversas modalidades, como o futebol, ciclismo, natação e corrida. 

A importância do diagnóstico diferencial

Nos últimos anos, a evidência científica disponível relativa aos mecanismos da fisiopatologia da SO tem vindo a aumentar, justificando a necessidade de ferramentas adequadas que possibilitem um diagnóstico correto e específico para a modalidade desporto em questão.

Dado que o diagnóstico da OS/NFOR consiste num diagnóstico de exclusão, é importante que o profissional de saúde consiga excluir todas as possíveis causas que possam justificar a diminuição do desempenho desportivo acompanhado pelo extremo cansaço d@ atleta. Efetivamente, o consumo exagerado de cafeina e os sintomas consequentes da sua abstinência, anemia, infeção do trato respiratório superior, doença de Lyme, insuficiência adrenocortical, doença renal crónica, hipotiroidismo, efeitos secundários da medicação e doença coronária apresentam sinais e sintomas que são transversais à OS/NFOR. 

Alterações reportadas com frequência:

– Diminuição da performance;

– Fraqueza muscular;

– Fadiga crónica;

– Dor muscular;

– Aumento da perceção à dor;

– Redução da motivação;

– Distúrbios no sono;

– Perda de apetite;

– Distúrbios gastrointestinais;

– Infeções recorrentes;

– Aumento da frequência cardíaca matinal ou durante a noite;

– Alterações de humor constantes (pouco vigor, cansaço, depressão)

O overtraining e a incidência de infeções são razões pelas quais @s atletas não cumprem as expectativas relativamente à sua performance.

Atletas apresentam exigências físicas e cognitivas magnânimas e é crucial desenhar um plano de intervenção capaz de suprir todas as suas necessidades e requisitos. Na verdade, atletas que treinam a elevadas intensidades, particularmente em modalidades de endurance, parecem ser mais suscetíveis à ocorrência de infeções – à luz da evidência científica, tal parece estar relacionado com a depressão da função do sistema imunitário. Esta ligação entre treino intenso e imunodepressão pode constituir uma ferramenta capaz de identificar possíveis casos de risco de SO.

A comunidade científica desportiva tem-se debatido sobre quais são os marcadores ideais e capazes de identificar o estado do sistema imunológico d@s atletas. Alguns destes incluem testes de esforço, diários com registo de sintomas (fadiga, dor muscular), monitorização da frequência cardíaca durante o sono e perfis psicológicos. Para além destes, a medição da permeabilidade intestinal – estando o seu aumento associado ao exercício físico, pode facilitar a entrada de endotoxinas para a circulação, o que ativa a síntese de citocinas inflamatórias e, consequentemente, contribui para o aumento do grau de inflamação sistémica. A nutrição e alimentação desadequadas podem prejudicar o estado nutricional d@ atleta, o que pode comprometer a resiliência do seu sistema imune, síntese de neurotransmissores a nível intestinal, síntese de ácidos gordos de cadeia curta com potencial anti-inflamatório e prejudicar o fornecimento de energia, crucial durante o exercício físico. Por fim, distúrbios no sono, particularmente as insónias, desequilibram o sistema nervoso autónomo, e todos os eixos que o constituem, incluindo o eixo-hipotálamo-hipófise-adrenal, tendo como consequência distúrbios na síntese de glicocorticoides, como o cortisol, podendo aumentar o catabolismo proteico, impactar no ritmo circadiano, eficiência do sono e nos níveis de energia diurnos.

Dadas as particularidades da SO/NFOR, reforçamos a importância da consulta e acompanhamento por um profissional de saúde de excelência, que consiga guiar e orientar @ atleta, com fim último na melhoria da sua saúde a longo prazo, e por consequência do seu rendimento e sucesso desportivo.

Na Nordic Clinic temos à disposição o Nordic Sports Performance com o Dr Eduardo Coelho e apoio da Drª Inês Mazagão, desenvolvido a pensar em atletas e no seu rendimento desportivo. Contacte-nos para saber como a equipa o poderá ajudar 222 081 982 ou info@nordicclinic.pt

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3. Carfagno DG, Hendrix JC, 3rd. Overtraining syndrome in the athlete: current clinical practice. Curr Sports Med Rep. 2014; 13(1):45-51.

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