Diabetes: uma abordagem muito além dos hidratos de carbono
A diabetes é uma doença metabólica crónica, que se caracteriza pelo aumento dos níveis de açúcar no sangue podendo, a longo prazo, causar danos graves ao nível do coração, vasos sanguíneos, olhos, rins e nervos.
Existem diferentes tipos de diabetes, mas a mais comum é a diabetes tipo 2, que é mais prevalente em adultos e surge quando o corpo se torna resistente à ação da insulina (hormona responsável pelo transporte do açúcar do sangue para o interior das células) ou não produz insulina em quantidades suficientes para dar resposta ao açúcar que circula no sangue.
Quando não é controlada, a diabetes pode causar complicações que incluem, por exemplo, insuficiência renal, amputação das pernas, perda de visão e danos nos nervos. Além disso, pacientes diabéticos têm um maior risco de sofrer ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs). No caso das mulheres grávidas, a diabetes não controlada aumenta o risco de morte fetal e outras complicações.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma dieta adequada é uma das intervenções de primeira linha no controlo da diabetes, juntamente com a prática de exercício e se necessário, medicação.
A dislipidemia (níveis elevados de colesterol e/ou de triglicerídeos no sangue), a disfunção vascular, o stress oxidativo, a inflamação crónica de baixo grau e a alteração de determinadas vias de sinalização são algumas das consequências associadas à diabetes que têm sido objeto de estudo pela comunidade científica, no sentido de encontrar estratégias que possam modular estas consequências.
Uma dessas estratégias, e que tem sido amplamente estudada, é o consumo de alimentos funcionais e de compostos bioativos variados na dieta de pacientes diabéticos. A ingestão deste tipo de alimentos parece ter efeitos muito positivos no controlo da doença, na medida em que:
– Atenuam o metabolismo dos hidratos de carbono e a hiperglicemia
– Melhoram o funcionamento das células beta pancreáticas e a secreção de insulina
– Melhoram a resistência à insulina
– Regulam o metabolismo lipídico
– Modulam o balanço oxidativo/antioxidante, ao ativar a ação de enzimas antioxidantes
– Modulam processos inflamatórios, suprimindo a produção exacerbada de citocinas pro-inflamatórias Facilitam o controlo do peso
– Previnem complicações vasculares micro e macro
– Regulam a pressão arterial
O que são alimentos funcionais?
Um artigo de revisão da revista Nutrients, publicado em 2017, com o título “Functional Foods and Lifestyle Approaches for Diabetes Prevention and Management” define alimentos funcionais como todos os alimentos com compostos biologicamente ativos que sejam tragam benefícios fisiológicos relacionados com a prevenção de várias doenças crónicas, como é o caso da diabetes tipo 2.
O papel da Dieta Mediterrânea
A Dieta Mediterrânea tem sido apontada, pela Associação Americana da Diabetes, como a melhor dieta para a prevenção e controlo da diabetes tipo 2.
Os seus efeitos benéficos estão associados ao elevado teor de polifenóis presentes em alimentos privilegiados na Dieta Mediterrânea como as frutas, os vegetais, o azeite e as oleaginosas. Além disso, também o consumo moderado de peixe e produtos lácteos, a baixa ingestão de carne vermelha e de vinho tinto, assim como a substituição do sal por ervas e especiarias parecem contribuir ainda mais para a teoria de esta ser a melhor dieta para pacientes diabéticos.
Em particular, podemos falar dos benefícios associados aos ácidos gordos monoinsaturados (MUFAs) como o ácido oleico presente no azeite, aos ácidos gordos polinsaturados ómega-3 (ex.: ácido alfa-linolénico) encontrados nas oleaginosas como é o caso das nozes, ao EPA e ao DHA presente nos óleos de peixe, à grande quantidade de flavonóides e de antioxidantes das frutas e vegetais e à quantidade de fibra encontrada nos cereais integrais, que apresentam um baixo índice glicémico.
Os compostos polifenólicos são um grupo diverso e heterogéneo de metabolitos vegetais comummente classificados como ácidos fenólicos, flavonoides, estilbenos e lignanos.
Por exemplo, os compostos fenólicos do chá verde, especificamente as catequinas e o ECGC (espigalocatequina galato) têm propriedades antioxidantes, capazes de suprimir o stress oxidativo e a inflamação, aumentando a expressão de genes relacionados com a resposta antioxidante.Além disso, polifenóis presentes no cacau, no café e no chá mate parecem influenciar positivamente a sensibilidade à insulina, a função vascular do endotélio, o metabolismo lipídico e glicídico e os mediadores inflamatórios.
Ensaios clínicos mostraram que a ingestão de três chávenas de chá verde por dia durante 14 semanas foi capaz de diminuir o rácio perímetro da cintura/perímetro da anca e diminuir o valor da glicose em jejum em mulheres. Além disso, mostraram também uma redução de 13% do valor de ALT (alanina aminotransferase, um marcador da função hepática) em mulheres, ao mesmo tempo que se verificou um aumento da capacidade antioxidante em homens e mulheres de 5,1% e 2,7%, respetivamente.Apesar de a evidência científica nos apresentar estratégias nutricionais mais avançadas, hoje em dia, a educação nutricional do paciente diabético ainda se baseia muito no ensino da contagem de calorias e de hidratos de carbono. Assim, além disso, defende-se que o paciente diabético deva ser educado não só no sentido de controlar a doença como também de minimizar o impacto da mesma numa visão mais alargada da sua saúde.
Referências:
www.who.int
Alkhatib A, Tsang C, Tiss A, Bahorun T, Arefanian H, Barake R, Khadir A, Tuomilehto J. Functional Foods and Lifestyle Approaches for Diabetes Prevention and Management. Nutrients. 2017 Dec 1;9(12):1310. doi: 10.3390/nu9121310. PMID: 29194424; PMCID: PMC5748760.
Mirmiran, P., Bahadoran, Z., & Azizi, F. (2014). Functional foods-based diet as a novel dietary approach for management of type 2 diabetes and its complications: A review. World journal of diabetes, 5(3), 267–281. https://doi.org/10.4239/wjd.v5.i3.267